Pra que gostar de alguém que não gosta de mim?
A indiferença eterna de dar em cima de quem quiser que seja e não ser nunca correspondido. É a indiferença que é destinada a todo mundo que não se enquadra, que não agrada.
Por mais que eu saiba que eu queria amar alguém, por mais que eu goste, eu sei que aquele cara nunca será pra mim, nunca! Seja quem for.
Numa noite fria eu me sinto só entre as coisas da rua por aí, esse mundo não gosta de mim e nem eu dele, mas o que eu posso fazer?
Entender que ser desprezado é algo normal, que ninguém na minha situação se sai bem com isso mesmo. É frio, é solitário, é andar sem saber onde ir. Você sabe que não existe o que fazer.
Você sabe que não terá apoio de ninguém.
Eu fico comigo numa noite escura e fria jogado na rua.
Eu sou mais um entre um monte de gente que não se importa com nada, eu sou o resultado de um mundo injusto, um local onde ninguém quer ajudar ninguém.
O desafio é esse, é ser homossexual e saber que por mais que se lute, por mais que eu consiga, o amor não é pra mim. Só me resta uma noite fria onde as pessoas vão pra suas casas e eu fico abandonado.
Certa vez eu acreditei que poderia ter um pouco de felicidade, as pessoas me diziam que sim, eu poderia, mas pessoas dizem aquilo que interessa a elas, elas não querem alguém derrotado perto delas. Falam por falar. Mas com o passar do tempo eu fui vendo que era um forasteiro num campinho desconhecido que seguia por ser ensinado que o certo é ter otimismo, mas no fundo eu sentia que era uma ilusão, uma coisa perdida, ser tido por todos que você gosta um ser importuno.
Eu caminho pelas ruas , sei que isso é um deserto particular, por mais que eu brinque, ignore, finja, eu sei que o meu problema é só a morte que irá resolver. Eu me calo, fico num canto esperando a noite passar conformado e faminto de humanidade.
São sempre as mesmas coisas, você gosta mas sabe que não acontecerá nada, é horrivel começar uma guerra que você sabe que sairá perdedor , mesmo assim a vontade do corpo manda, eu sei que irá ser inútil mas o corpo manda!
Eu andando a noite nas praças e o vento frio me lembra que eu não deveria estar aqui, que eu não sou daqui.
Por que então eu sinto uma coisa que me faz sofrer, o que me leva a isso? É um sofrimento calado que correi como a pior das dores, saber que já se perdeu antes de lutar. Não existe o que eu faça , não existe brecha , não existe clemencia, só me resta esperar a morte como quem espera o fim da tarde.
Eu ando entre as pessoas, elas são elas, pouco se importam comigo, é uma sociedade de indiferentes, mas dentro de mim não é indiferente, eu sofro, sofro por ser condenado a nunca poder dizer o que sinto, eu sou condenado pela vida inteira ter um câncer dentro de meu peito que me corroí todo, eu bem que tento mas não consigo ser indiferente a quem eu gosto, dentro de mim sofre por não entender que esse mundo é contra o que eu sinto, contra tudo o que eu sou, eu tenho que ficar calado, esquecer o que eu sou e ficar num banco de praça a noite abandonado esperando o frio passar.
Você se sente estranho por ninguém sentir sua falta, você sabe que o tempo está passando, mas isso não passa, não existe fim para essa angustia. As pessoas lhe atraem como se fosse um castigo maldito mas você não pode fazer nada, o seu corpo lhe sabota, você não pode nascer de novo!
Ser gay é viver numa noite fria onde todos vão para as suas casas e você fica numa rua com fome esperando o dia decadente chegar. Você sabe que seu destino é sofrer no que a sociedade tem de pior, o desprezo, a indiferença e o ódio. Não existe apelo, não existe remédio, não existe santo, não existe nada que possa lhe salvar e não ser o direito de poder morrer para sair de uma sociedade que não é você e que nem quis você.
Não quero ter amigas e amigos, quero poder gostar de quem eu gosto e ser gostado, eu preciso me sentir um ser humano fazendo isso, eu quero poder gostar sem sofrer na carne o ódio do mundo.
Eu não aguento mais tanta indiferença, tanto ostracismo. Por mais que eu exista de várias maneiras, você não liga, não precisa de mim.
Ninguém liga para o que eu preciso, eu tenho que ir pra um canto na rua de noite, não incomodar e deixar meu corpo morrer como minha morreu a minha dignidade. É só isso.