Noite de virada de ano triste em Itanhaem – uma bicha sozinha no meio da festa dos heteros

Estamos naquela época depressiva que é o final de ano, junto com ele vem as inevitáveis comparações de poder, comparações de uma pessoa como eu que é gay e que só gosta de caras heterossexuais da elite sexual, com pessoas heterossexuais comuns que transam em qualquer local.

Hoje quando eu fui postar no meu Tiktok https://www.tiktok.com/@sougayegostodehetero de repente comecei a pensar sobre a vida desses heterossexuais interessantes que eu tanto gosto, caras assim geralmente têm muitos ‘amigos(as)’, afinal parece que todo mundo quer estar perto de quem de alguma forma lembra o sucesso, mesmo que ele seja puramente sexual. Os caras heteros amam afirmarem que não ligam para homens, que eles nem se quer reparam em outros homens, mas a verdade é que eles reparam sim, tanto é que os caras heteros chamativos são os que mais amigos tem. É coincidência? Não! Na verdade todo mundo procura aquilo que é belo pois o belo de certa forma representa poder e força. Isso faz parte dos nossos mecanismos de seleção natural, acho que não tem como fugir disso meus caros.

O belo, o altamente erótico, o sexy, sempre é mimado pelos demais, como se fosse uma abelha raínha que carece dos cuidados de suas operárias. Veja, no meu Tiktok eu sigo um rapaz açougueiro que é irritantemente sexy, aquele cara transpira masculinidade e sexualidade, os mediuns diriam que ele tem uma energia sexual muito forte. Porra! Eu não consigo ver aquele rapaz como um ser humano, eu só o enxergo como uma máquina de fazer sexo , a conta dele se chama @rapazidafaca e ele explora bem a sua energia sexual para ter popularidade na rede, lá no Tiktok ele está sempre com os amigos dele fazendo o que ele manda, além de contar com mais de 30 mil seguidores… Vai um gay sem graça como eu, que não desperta atração sexual em nada, dar ordem pra alguém me ajudar a fazer interpretações performáticas em alguma rede social, o povo muda de assunto, me deixa falando sozinho e vai embora! A nossa sexualidade é um tipo de magnetismo que podemos usar ao nosso favor, mas gays ou tem essa “energia” baixa ou anulada como é o meu caso ou tem essa energia mas o corpo não tem como explorar todo o seu potencial, oque acaba dando no mesmo. Isso é triste! É como viver desarmado numa guerra!

Também encontrei lá no TikTok a ex do cara “montanhista” que eu gostei, a @montsxo , ela tem sexo até no apelido, essa moça é irritantemente sexy, penso como o cara que eu gostei fazia loucuras com ela na cama, isso me dá muita inveja mesmo! sabe? Afinal sempre foi o meu sonho fazer loucuras com um cara que realmente eu me interessasse e não essas forçassões de barra que os gays insistem em fazer com qualquer coisa que eles classificam como “homem” só porque tem cabelo curto.

Bom, esses dois personagens sexuais que eu citei, penso eu que não ficarão esquecidos nas festas de natal e ano novo do final de 2024 como eu sempre fico. Quando eu digo não ficar esquecido nas festas eu não estou me referindo a receber aquele mecânico e robótico “feliz natal!” e “feliz ano novo!”, isso até um pombo recebe. Quando eu digo não ficar esquecido, eu estou falando de ser chamado insistentemente para alugar uma casa de praia em Angra, Ubatuba, Guarujá, Santos ou Peruíbe para fazer uma pequena orgia minuciosamente calculada, cheia de amigos, zoeira, bebidas e muitas histórias pra contar depois. Quem que me chamaria pra isso?

Eu já ouvi muitas amigas dizerem que fulano ou ciclano que era amigo em comum meu, fazer muita falta quando estava ausente, sempre ouvia isso constrangido por, de certa forma, atestar que a minha presença era irrelevante. Claro! O que rege a humanidade é a vontade velada de fazer sexo com quem se tem vontade de fazer. Mulher depois que sabe que eu sou viado, naturalmente perde o parco interesse que tinha por mim, homem, nem pensar, eles me olham como seu fosse o NEGÃO COMEDOR, que lástima! Então ninguém vai ter interesse pra me chamar pra nada, eu por ter a sexualidade derrotada, falida e repreendida não sou alguém bem-vindo em roda nenhuma, as pessoas querem é distância de mim! Eu não represento o orgasmo divertido que todos procuram por aí, eu represento na mente desse povo aquilo que todo mundo tem medo , eu tenho a lepra social que os aflige, entende?

Eu não represento o poder, eu não represento a força, eu não represento o sucesso, então as pessoas sempre que podem, evitam ter contato comigo, a não ser por interesse profissional ou financeiro.

Esse desprezo social fica muito notório nas festas de ano novo. Se você não está na corrente de fornecedor potencial de alegria sexual para o outro, simplesmente você estará condenado ao ostracismo, a não ser que você tenha um talento fodástico em outra área da sua vida, mas aí meu amigo, entra no campo do interesse profissional e financeiro onde as pessoas não gostam de você e de ninguém mas sim querem uma vantagem.

Eu fico impressionado quando eu me comparo com pessoas como essas aí que eu citei do Tiktok, essas pessoas são capazes de atraírem dinheiro, prosperidade, amizade e coisas significativas em suas vidas graças ao que tem no meio da perna delas! Veja o caso da ex do cara que eu gosto(ou gostava, sei lá) , ela quando estava com ele vivia nos melhores hotéis da Suiça e Inglaterra, tinha à sua disposição jatinho, carro, empregados, apartamentos e viagens, ou seja, um BAITA PODER só porque exercia a sua sexualidade! Esse poder é tão grande que faz pessoas se suicidarem! Algumas mulheres se tornam ricas graças a esse poder, uma inclusive foi mulher de um dos donos de um dos bancos mais importantes do Brasil, a mulher era de classe média, praticamente nunca trabalhou e ganhou a vida sendo uma “viuva negra” chegando a receber uma fortuna de bilhões. Vocês têm noção agora como esse poder de causar dependencia sexual nos outros é forte e revolucionário????

Eu fico olhando pra mim: o meu sonho era sair dos cortiços que sempre vivi e ir morar num local decente, sem gente que escarra, sem gente barulhenta, sem criança que fica dando gritos de divertimento das 7 da manhã até as 3 da madrugada ,sem gente inculta e baixa, sem mendigos dormindo e cagando por onde eu ando, dizem que pra eu sair dessa situação é simples:
basta eu gostar de mim mesmo, devorar todos os livros de autoajuda, falar quatro idiomas, perder a preguiça, me arrumar bem, fazer 4 faculdade e depois um doutorado, aperfeiçoar o meu inglês morando na puta que pariu, fazer uma plástica, me alistar em todos concursos públicos, estudar gabarito de provas 5 horas por dia, rezar pra deus, arrumar a casa, ser esforçado, acordar cedo, cuidar da minha saúde, praticar yoga, me manter informado comprando 4 jornais por dia, investir na bolsa e muito mais; equanto para uma mulher como essas que citei, basta abrir as pernas e gemer…
Ou no caso do açogueiro, basta ter pau grande e ser safado… Só!
Vejam, todo o meu esforço para eu TENTAR ser alguém na vida, pode simplesmente ser substituido por um rostinho bonito que sabe penetrar ou ser penetrado. Só! Chega a ser uma luta desleal!

É impressionante esse poder de fascinar as pessoas, ainda mais fascinar e ser fascinado, aí é muito recompensador e lucrativo!

Eu fico imaginando como deve ser ser uma pessoa que desperta ciumes numa outra que gosta!
Eu fico imaginando como seria um cara que eu gosto tendo ciumes doentiu por mim a ponto de ficar me interrogando onde eu fui e o que eu fiz na rua enquanto eu estive trabalhando! Nossa! É uma sensação praticamente alienígena, eu acho que é uma sensação mais forte do aquela que o consumo de cocaína dá nos viciados, pra mim que sempre sofreu indiferença e desprezo por parte das pessoas que eu de certa forma gostei. Nossa! Deve ser algo melhor que um orgasmo um cara desses que eu falo aqui no blog, ter ciumes de mim. As mulheres reclamam de ciumes pois desde pequenas elas são paparicadas feito verdadeira raínhas! Eu sempre digo que a melhor solução pra uma mulher que reclama do cíumes é nascer viado! Nasce viado que você vai ver como a indiferença é bem pior que o ciumes, a sua vida emocional será um eterno vazio, sem brilho, sem ciumes, sem brigas, sem nada, um verdadeiro vácuo.

Eu por exemplo, posso sumir 39 dias por aí que ninguém tá nem aí.

Eu não exerço poder sexual em ninguém, pra eu arrumar um trabalho ou crescer profissionalmente, o esforço é dobrado pois a minha cara não causa expectativa sexual em ninguém. É horríve isso.

Já o açougueiro do Tiktok, com certeza deve receber muitas cantadas de mulheres mais velhas que mudariam a vida dele em troca de ter a sua brutalidade “cortando a carne delas” , sem falar que caras assim gostam de mulheres velhas, ou seja, uma troca de favores onde ambos saem ganhando, quer coisa melhor? Nada mais justo se você nasce sem condições de ascender socialmente, usar outras armas ocultas para esse fim. Eu mesmo adoraria transar com quem me dá prazer e ainda por cima ter as portas da minha vidas abertas por conta disso. Qual o problema? Mas infelizmente esse poder eu não tenho!

Toda essa desgraça fica ainda mais evidente quando você cisma de dar uma de pessoa normal e vai tentar ficar fazendo as mesmas coisas que essas pessoas normais fazem. Eu por exemplo, há alguns anos atrás quando eu ganhava um pouquinho mais, lá por volta de 2010, toda virada de ano eu pegava um ônibus lá no Terminal Jabaquara e ia todo entusiasmado para o litoral passar o ano, com um pequeno detalhe: SOZINHO…


Sim, é meio triste mas eu fazia isso, na virada de ano eu pegava meu cartão, um celular, uma mochila e uma camera tekpix e ia viajar pra Itanhaem. Chega me dar um misto de saudades e tristeza, eu não sei se eu era mais feliz naquela época quando eu me iludia que poderia ter alguém ou se é agora que eu já sei que nunca vou poder ter. Naquela época a minha preocupação era mais amorosa, hoje é mais econômica, afinal eu já desisti dessa desgraça amaldiçoada que é tentar ter vida sexual. Pois bem, eu descia para Itanhaem, ninguém me chamava, não tinha dinheiro para me hospedar em hotel nenhum, diárias nos hoteis proximos ao mar, nessa época, ficam na faixa de
R$ 1800 a R$ 2000, mais que o aluguel mensal do cortiço onde eu moro!!!
Então eu ia literalmente para passar na praia, pegava minha tekpix, tirava fotos pra postar no saudoso Orkut e ficava lá, perambulando dentro das águas do mar por volta das 22 horas vendo os casais se pegarem, pra lá e pra cá, sentindo a brisa do mar, as pessoas vestidas de branco, mesmo sabendo que eu não iria achar ninguém pra mim, confesso que existia uma certa aura de mistério nessas noites que me atraia, era uma certa solidão gostosa e ao mesmo tempo sofrida. Eu me sentia um lobisomem perambulando nas ruas vendo as pessoas comemorando, estourando bombas, cheias de amigos, bem vestidas, tomadas banho, enquanto eu estava suado, sujo de água do mar, sentindo inveja daquelas casas cheias de mauricinhos e patricinhas felizes. Eu acho que no fundo eu queria ser um mauricinho heterossexual, sei lá.

Nos momentos finais do ano que se ia, eu andava pelos becos de Itanhaem, nos bairros mais ricos eu sentia uma energia gostosa, via aqueles mauricinhos lindos tipo Kayky Brito abrindo as portas de suas lindas casas para sairem de carro fazendo loucuras, dando gritos e bebâbados junto com as suas namoradinhas de orgia , isso me queimava de inveja pois eu era e sou exatamente o oposto: pobre, feio, sem amigos e vida sexual. Mas enfim, eu em silêncio olhava aqueles meninos lindos e só fato de passar por perto deles ou esbarrar sem querer em um que estava bêbado já me deixava meio iludido e feliz. Ou seja, satisfeito com a migalha da migalha. Eu me imaginava no meio da orgia deles, na casa deles, bebendo e consumindo o que eles consumiam, transar na virada e acordar numa casa que preste. Pra muitos isso deve ser trivial mas pra mim é um sonho tanto como ganhar na loteria.

Sei lá, Itanhaem e tem uma solidão em suas noites que lembra magia, namoro e mistério, só você estando lá para entender. Mesmo eu sabendo que heteros não gostam de gays, eu cismava que teria um daqueles caras que iriam me dar confiança. Uma vez inclusive eu estava no meio da queima de fogos na Praia dos Sonhos em frente a um hotel muito requisitado, tava lá eu, sozinho na multidão, sem trocar ideia com ninguém, cheguei mudo e saí calado, como se tratava de virada, o local estava mais lotado do que trem da CPTM às 18h , e eu lá no meio como se fosse um ET, de repente um rapaz muito bonito e meio bombado que estava muito suado, foi pra cima do meu braço e ficou roçando em mim sem querer para tomar o meu lugar e ver a queima de fogos. Eu sei que era para eu ner nojo, mas sei lá, acho que foi o primeiro homem na humanidade que encostou em mim no universo. Ele tava pra lá de suado, parecia óleo, eu fiquei em pane, não sabia se mantinha o personagem de pessoa séria ou se deixava o cara continuar, eu pensei tanta putaria com aquilo depois. O pior é que o cara não era feio, não era gay e adorava gritar, tipo aqueles torcedores de futebol histérico, bem do jeito que eu gostaria de ter. Depois ele sumiu e eu fiquei com aquilo na cabeça vários dias.

Pra quem não sabe, Itanhaem, na viarada de ano, tem a orla toda tomada de quiósques(barzinhos redondos onde tem tudo: samba, funk, música eletrônica, bebidas, petiscos e refeições) até o fim do horizonte, uns mais lotados e outros menos, eles ajudam a praia a não ficar escura pois cada um têm uma lâmpada potente em cima que permite as pessoas transitarem por perto. Bom, como eu não tinha onde ficar, ficava perto deles, em uns eu via umas famílias de branco com moças e rapazes lindos, todos limpinhos e alegres pois estavam hospedados em hoteis. Eu olha pra eles com uma cara de cachorro sem dono querendo fazer parte daquela vida sem poder fazer.


Nas partes mais escuras da praia alguns namorados transavam e tocavam funk bem alto, eu ia lá pra dançar pensando que talvez acharia alguém, afinal eu estava bem aberto, parecendo um gato no cio entusiasmado com o clima de magia e orgia proporcionado pelos heteros. Como reinava a penumbra, as pessoas se soltavam mais ainda, afinal ninguém via direito a cara de ninguém, eu então comecei a dançar de gozação empinando a bunda, então pára um Golf preto perto de onde eu estava e sai um rapazinho branquinho de bermuda e sem camisa , meio baixinho, ele começou a dançar junto com a namorada dele também mas não sei, senti uma certa atração por ele, ele me parecia fácil. Como eu nunca tive ninguém na vida, o simples fato da pessoa não ser mal humarada e não me tratar mal, já me ilude, ainda mais se for bonita, ele era bonitinho sim, quando o tal rapazinho começou a dançar perto de mim, a namorada dele o pegou, fez ele entrar dentro do carro e nunca mais os vi. Nem me iludir direito eu posso!

Eu sei que como eu não tinha lugar pra ficar por ser rejeitado por todos, eu acabava cochilando nas escadinhas dos quiosques , tinha umas bolivianas que até dormiam lá sem serimonia alguma.
Eu não dormia pois ficava triste, pensando na vida, olhando o mal, ao mesmo tempo eu gostava e ao mesmo tempo eu me sentia solitário. Quando os pernilongos viam todos pra cima de mim lá por volta das 3 da manhã, eu me jogava na água, alguns peixes esbarravam em mim e com medo de ser um tubarão eu voltava de novo pra onde eu tava. Fica tipo uma entidade sobrenatural andando pra lá e pra cá esperando dar 5 da manhã pra pegar um ônibus na rodoviária. Não falava com ninguém, ninguém também me procurava e imagino que os tais mauricinhos que eu invejava estavam fartos de tanto transar com suas menininhas novinhas sagradas… A vida foi feita pra esse povo, não pra mim!

Quando dava 4 horas da manhã, a praia já estava praticamente vazia, cheia de garrafas, coisas de macumba e eu lá no meio, de repente surgem lá de longe uns tratores com uns faróis enormes que lembravam uma invasão alienígena em andamento. Na verdade se tratava dos tratores de limpeza, eles saem pegando num rítmo alucinante tudo que é sujeira na praia e vão limpando. É bom todo mundo sair da frente. E eu lá, me sentindo um morador de rua.
Lá pelas 5 horas da manhã a magia da noite de ano novo já acabou, os mauricinhos transaram até a exaustão com suas fêmias sexys com rostinho de crianças em suas casas bonitinhas ou até mesmo dentro de seus carros SUV e eu todo suado e sujo indo pra rodoviária pegar um ônibus pra voltar pra São Paulo sem ter feito vínculo emocional nem com um peixe, não arrumei nenhum contato, não me relacionei com ninguém , enfim, contato zero.
Senti a pior solidão que é aquela que se sente quando se está no meio de várias pessoas. Senti que não sou relevante a nada e ninguém. Ninguém nem me chamou pra rachar as despesas. É isso, ser gay e gostar de hétero é assim: voltar pra casa sujo e suado, mudo e calado da mesma forma que foi e ninguém tá nem aí.

Mulheres, vocês realmente sofrem com o ciumes de vossos namorados?

Pensem bem!

Um comentário

  1. Fantástico relato, estava com suadades dos seus textos. Enxerguei a cena inteirinha da sua noite na praia. Que 2025 lhe seja mais gentil! Um abraço.

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